Por que os papas mudam de nome? A origem está no cosmos
Por que os papas escolhem novos nomes?
Entenda a origem dessa prática, que começou com João II para evitar conexões com a astronomia
Pouca gente sabe, mas a tradição dos papas adotarem um novo nome ao serem eleitos nem sempre foi uma regra. Embora hoje seja um costume consolidado e carregado de simbolismo — de homenagens a pontífices anteriores até sinais sobre os rumos do novo papado —, essa prática começou apenas no século VI, com um motivo curioso: evitar associações com um planeta (e também um deus romano).
O primeiro pontífice a adotar um nome diferente foi João II, que subiu ao trono papal em 533. Seu nome de nascimento era Mercúrio, em homenagem ao deus mensageiro da mitologia romana e ao planeta mais próximo do Sol. Para evitar a conotação pagã, ele escolheu o nome “Ioannes”, tornando-se o segundo papa a se chamar João. A mudança marcou o início de uma tradição que só se firmaria mais adiante.
Tradição de mudança de nomes de papas demorou a se tornar padrão
Após João II, o uso de nomes pontificais alternativos foi adotado esporadicamente. O próximo a seguir esse caminho foi João III, nascido Catelinus, 25 anos depois. Por séculos, muitos papas mantiveram seus nomes de batismo, especialmente quando estes já eram tradicionais na Igreja. Um exemplo é o papa Lando, em 913, o último a adotar um nome inédito até a escolha de Francisco, no século XXI — desconsiderando os nomes compostos de João Paulo I e II.
A tradição se consolidou apenas com João XIV, nascido Pietro Canepanova, em 983, e logo depois com Gregório V, anteriormente Bruno Von Kärnten, em 996. A partir daí, a troca de nome passou a ser regra entre os pontífices, carregando significados teológicos, históricos e até mesmo políticos.
A relação entre o Vaticano e a astronomia
Curiosamente, a decisão de João II em se afastar de um nome com origem cósmica não impediu que o Vaticano cultivasse um forte vínculo com a astronomia ao longo dos séculos.
Um dos papas mais influentes nesse aspecto foi Gregório XIII, responsável pela criação do calendário gregoriano — ainda em uso hoje —, baseado em observações astronômicas e que resultou na exclusão de 10 dias em outubro de 1582.
A Igreja Católica também mantém desde o século XIX a Specola Vaticana, ou Observatório do Vaticano, uma das instituições científicas mais antigas ainda em atividade.
Seu trabalho já resultou em importantes contribuições à astronomia, como o mapeamento de estrelas e a nomeação de asteroides em homenagem a quatro freiras e dezenas de jesuítas que atuaram no projeto.
Ana Luiza Figueiredo